{Resenha} O Sol na Cabeça



Título: O Sol na Cabeça
Autor: Geovani Martins
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9788535930528
Número de Páginas: 122
Ano: 2018
Classificação: 

Em O sol na cabeça, Geovani Martins narra a infância e a adolescência de garotos para quem às angústias e dificuldades inerentes à idade soma-se a violência de crescer no lado menos favorecido da “Cidade partida”, o Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XXI.
Em “Rolézim”, uma turma de adolescentes vai à praia no verão de 2015, quando a PM fluminense, em nome do combate aos arrastões, fazia marcação cerrada aos meninos de favela que pretendessem chegar às areias da Zona Sul. Em “A história do Periquito e do Macaco”, assistimos às mudanças ocorridas na Rocinha após a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora, a UPP. Situado em 2013, quando a maioria da classe média carioca ainda via a iniciativa do secretário de segurança José Beltrame como a panaceia contra todos os males, o conto mostra que, para a população sob o controle da polícia, o segundo “P” da sigla não era exatamente uma realidade. Em “Estação Padre Miguel”, cinco amigos se veem sob a mira dos fuzis dos traficantes locais.
Nesses e nos outros contos, chama a atenção a capacidade narrativa do escritor, pintando com cores vivas personagens e ambientes sem nunca perder o suspense e o foco na ação. Na literatura brasileira contemporânea, que tantas vezes negligencia a trama em favor de supostas experimentações formais, O sol na cabeça surge como uma mais que bem-vinda novidade.

O Sol Na Cabeça tem gerado bastante burburinho, não é à toa que já foi vendido para oito países e teve seus direitos vendidos para se tornar uma adaptação audiovisual. Não costumo ler muitos livros de contos, porém, ao receber o livro da Companhia das Letras, Geovani Martins me fez dar uma repensada, apresentado contos de uma realidade carioca de uma forma bastante impressionante e envolvente.

O livro possui treze contos, cada um com a sua particularidade e personagens, porém com um assunto em comum: todos se passam na periferia do Rio de Janeiro, indo da linguagem mais coloquial possível até uma mais rebuscada. No primeiro conto, Rolézim, somos levados por um conto com uma linguagem totalmente informal, narrado por um adolescente, com todas as gírias e expressões cariocas, abusando ao máximo da licença poética. Já de início, você sente o impacto e é transportado para o Rio de Janeiro, tornando a relação com o personagem muito próxima, dando a impressão de estar participando de uma conversa direta, quase ouvindo o seu sotaque. É algo impressionante.

Durante os contos, Giovani nos apresenta fatos comuns, como o preconceito, racismo, uso e tráfico de drogas, pichação, grupo de amigos adolescentes indo à praia, o abuso policial... O livro é regado de acontecimentos que podem acontecer com qualquer pessoa próxima àquela realidade, se repetindo inúmeras vezes, sob diferentes pontos de vista, tendo protagonistas crianças, adolescentes, adultos e também tendo a presença de idosos. Um livro que te faz esquecer que são contos, que te faz esquecer de que está sentado ou deitado em algum lugar lendo o livro, um livro que te transporta.

A leitura de O Sol na Cabeça consegue ser bem rápida e envolvente. É um livro importante, responsável por contar histórias comuns, sob o ponto de vista de quem vive ou viveu aquilo, efeito que Giovani conseguiu alcançar muito bem. O autor nos presenteou com contos que envolvem humor, outros com toque de suspense, aventura, numa ótima escrita, contribuindo para uma boa leitura.   

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